Quando minha filha mais nova estava no quarto ano, eu decidi transferi-la para a escola Rudolf Steiner de Nova York. Eu estava então no último ano da minha formação e mestrado em Administração de Escolas Waldorf e Desenvolvimento de Comunidades na Faculdade de Sunbridge, no estado de Nova York. Cinco meses depois, minha filha me olhou nos olhos e, com o seu jeito sempre inquisitivo, para não dizer questionador, disse-me que deveria ter vindo para aquela escola desde o começo. Ela disse: “Eu achei minha escola, mãe.” O que eu não sabia é que também estava encontrando “minha escola” e que em meu caminho surgiria a pequena Escola Waldorf do Brooklyn, então um impulso carregado por um pequeno grupo de pais e professores.
Assim como a maioria dos pais Waldorf, eu caminhei no primeiro dia de escola lado a lado com minha filha. Meu coração cheio de expectativas de que a vida escolar de minha pequena seria mais interessante, excitante, criativa e orientada para um futuro aberto, cheio de possibilidades. Como as minhas outras três filhas tinham ido para excelentes escolas públicas e universidade de renome, minha experiência em suas escolas tinha sido extremamente positiva. Eu tinha sido vice-presidente e presidente de suas associações de pais por quase uma década e membro do Time de Liderança da Escola (SLT) por seis anos. Esse Time era composto de pais, professores e administradores. Eu tinha, portanto, não somente bastante experiência em escolas, como também a prática de parceira, ajudando a co-criar essas escolas.
Nossa entrada na escola Waldorf, no entanto, tinha uma nova qualidade. No carro, a caminho da escola, a pequena Elizabeth me perguntou por que eu parecia tão nervosa. Eu pensei um pouco e repliquei: “Eu tenho a impressão de que nossa entrada nessa escola significa que eu tenho que me tornar uma mãe melhor do que eu tenho sido.” Na sua forma sempre genuína, ela não hesitou e simplesmente disse: “Você pode, mãe”.
E assim nós começamos a nossa jornada Waldorf, a qual culminou apenas três dias atrás numa tocante cerimônia de graduação. Ao olhar para a 8 classe, professores e pais com os quais tanto compartilhamos, recordações dos dias marcados pelo novo começo passaram pela minha mente. Vi que tinha sido recebida com calor e que logo no começo fui convidada a me tornar um membro da comunidade. Não só participou nisso a professora de sala como também a escola inteira. Pra começar a professora de classe me colocou em contato com uma outra mãe da sala, também latina, a qual tinha sido designada para me aclimatar com a escola. Na primeira reunião de sala, ela nos apresentou para todos os pais e anunciou nossa chegada no jornal da escola. A escola também nos acolheu com uma recepção para novos pais. Nessa recepção, os membros da diretoria, da mantenedora, os membros do conselho e da associação de pais explicaram como poderíamos participar da vida da comunidade e o que a escola precisava e queria desenvolver no futuro.
Ao entrar na escola, como uma Nova Mãe comecei meu caminho de me tornar uma parceira da Escola Rudolf Steiner de Nova York. Eu já havia trilhado esse caminho nas três escolas que minhas filhas frequentaram. Tal caminho me levou a publicar minha tese sobre o processo de desenvolvimento de parceiras em escolas, o qual chamei de “Co-criando Escolas em Parceria” ou simplesmente “Parceria Criativa”. Foi somente quando entramos na escola Waldorf, no entanto, que pude ver a real expressão desse trabalho de parceria, baseado num impulso espiritual consciente e adequado para as crianças de nossos tempos.
Durante o meu primeiro ano na escola, eu observei atentamente como tudo funcionava, como eu me relacionava com a comunidade e como minha filha estava aprendendo e se desenvolvendo. Experiente como parceira das escolas anteriores, eu usei o modelo de parceria criativa para analisar a escola e desenvolver meu relacionamento com a mesma. Olhando para trás vejo que, mesmo tendo 10 anos de experiência como liderança em escolas e tendo o treinamento em administração Waldorf e formação Waldorf de professora de trabalhos manuais, eu tive que passar por todas as fases de desenvolvimento de parcerias da mesma maneira que todos os outros pais o fizeram.
Assim, vi com renovada clareza que, em instituições educacionais, a vida social, econômica e espiritual/cultural se entrelaçam de tal forma que as escolas se tornam organizações vivas que aprendem e se desenvolvem ao longo do tempo. Essas organizações passam por fases de desenvolvimento e são transformadas na medida em que os indivíduos que estão nelas envolvidos aprendem e mudam. Para que as escolas Waldorf cumpram plenamente sua missão social, os adultos ligados a elas também precisam ser engajados na experiência de aprendizagem e crescimento interior. No meu caso, essa mãe acolhedora me ajudou a encontrar respostas para muitas das minha perguntas típicas de novos pais.
Ainda durante o meu primeiro mês na escola, uma outra mãe do quinto ano se apresentou a mim na escadaria e me convidou para participar da oficina de bonecas para a Feira de Outono (versão americana do bazar). Nessa oficina comecei a encontrar outros pais e a desenvolver amizades que continuaram nos anos posteriores. Com esse amigável e caloroso começo, eu me senti encorajada a participar da feira e, não só fiz minha primeira boneca, como também participei da construção de um salão especial, chamado Floresta Encantada. Nesse salão as Root Children, bonitas figuras feitas de lã natural, cujas cores vibrantes vinham de tintura de plantas, conduziam-nos pelas estações do ano. As pequenas criaturas e o cenário de feltro foram feitos pelos pais da minha sala (quinto ano) sob instruções de uma das mães. Pela primeira vez, eu toquei numa lã natural pura e me encantei. A sensação da lã permaneceu nas minhas mãos por dias. Fiquei profundamente interessada em trabalhos manuais e, apesar de sofrer de falta de talento artístico e de ter um daltonismo parcial, eu decidi fazer o curso de professora Waldorf de artes aplicadas. Coincidentemente, a mãe que coordenou os trabalhos da Floresta Encantada era a minha “calorosa parceira de conversa” e veio a se tornar uma amiga e mais tarde minha colega no curso de formação de professores de artes manuais. Hoje ela ensina artes manuais na escola Waldorf de Brooklyn e no curso de formação de professores de artes manuais.
A história dessa minha colega ilustra um dos resultados mais comuns do desenvolvimento de parcerias em escolas. Minhas observações e pesquisas indicam que um dos mais fortes fatores para o sucesso no modelo de parcerias criativas é quando os pais, professores e escola vivenciam o auto-desenvolvimento e crescimento. De forma que uma expressão significativa desse sucesso é a constância na qual pais e professores se envolvem em um processo de aprendizagem, o qual é condição essencial para que os pais passem de "consumidores" de um currículo para se tornarem cocriadores baseados no entendimento do desenvolvimento humano abarcado pela escola.
Nas escolas Waldorf os professores são eternos aprendizes e pesquisadores que intencionalmente tomam um caminho de meditação e desenvolvimento interior para atender às crianças e crescer como profissionais e como seres humanos. Eles buscam parcerias com os pais, que são essencialmente impulsionados pelas necessidades de seus filhos, fazendo com que os pais também enveredem em um caminho de desenvolvimento para alcançarem o mesmo objetivo. A Parceria Criativa requer um maior envolvimento de todos. Para criar essa forma de parceria, escolas precisam ir além das necessidades das crianças para também atender às necessidades de conhecimento e melhoria dos adultos. Por este motivo, dois dos melhores indicadores de uma parceria de sucesso são o entusiasmo e o intenso interesse dos pais pela escola e as mudanças perceptíveis em suas vidas. No meu caso e de minha colega, fomos fazer a formação de professor Waldorf de trabalhos manuais e passamos a trabalhar em escolas Waldorf.
Os 7 estágios
Mais cedo ou mais tarde todos os povos do mundo terão de descobrir uma maneira de viver juntos em paz e, assim, transformar esta elegia cósmica inacabada em um salmo criativo de fraternidade. Se isso é alcançado, o homem deve evoluir para todos os conflitos humanos de um método que rejeita a agressão, vingança e retaliação. O fundamento de tal método é o amor.
Martin Luther King Jr
Ao olharmos para a sociedade e profundamente sentirmos e observarmos o seu pulso, perceberemos um "organismo vivo" que está incessantemente conectando indivíduos com a natureza, consigo mesmo e com outros seres humanos. Em nosso corpo, existem 7 processos vitais que sustentam a vida, cada um com suas próprias tarefas, respirando, aquecendo, nutrindo, segregando, mantendo, crescendo e reproduzindo, os quais harmoniosamente trabalham não só para tornar a vida possível, mas também para tornar o desenvolvimento humano atingível . Através da incorporação na alma desses processos vitais, aprender torna-se uma realidade na idade adulta, pois os 7 processos vitais transformam-se em 7 processos de aprendizagem (percebendo, relacionando, assimilando, individualizando, praticando, crescendo faculdades, e criando algo novo).
Há ainda um terceiro tipo de processo, o qual sustenta a vida social. Enquanto os 7 processos vitais mantêm a nossa relação com nosso corpo e o cosmos, os 7 processos de aprendizagem sustentam a nossa relação com nós mesmos e nosso espírito.
Então, o que sustenta a nossa relação com outros seres humanos?
O que sustenta a estrutura relacional de vida?
Eu diria que, quando em serviço à coletividade, a sabedoria dos 7 processos vitais se torna processo social. Quando incorporados à alma, esses processos atuam no aprendizado que, quando espiritualizados, trazem significado para o encontro humano. Desta forma, os processos sociais, ou seja, encontrando, atendendo (com Interesse), fomentando, reconhecendo, dando continuidade, expandindo, e criando novas formas sociais, harmonizam a teia do destino referida por Martin Luther King Jr.
...continua....
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